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Carta para a antiga eu

(Hannah Olinger/Unsplash)

Olá, antiga Eu.

É engraçado olhar pra trás e ver o quanto as coisas mudaram, a começar pela gente. Já não tenho mais o peso de antes e tampouco os fios de cabelo alisado. Nesse último aspecto, eu me orgulho um pouco mais por se tratar de um processo de autoaceitação que deu certo. A questão do peso ainda está em fase de (des)construção. Mas não é para isso que eu comecei a escrever essa carta.

Na verdade, sequer posso dizer que haja um motivo específico. Talvez seja muito mais uma maneira de me reavaliar para saber o que que eu desejo que permaneça (ou não) na minha vida.

Você deve se lembrar das tantas vezes que nós repetimos a máxima de querer ser adulto logo. Provavelmente esse tenha sido um dos nossos maiores enganos da nossa juventude. Por que sim, existem pontos positivos em ser adulto, mas eles vês junto a uma série de exigências e obrigações até então inexistentes.

Por que nada funciona como uma comédia romântica onde tudo é resolvido no final. A vida real vai muito, mas muito além disso. Nela não há príncipes, princesas, castelos, bruxas ou dragões. A magia do pó de pirlimpimpim fica restrita ao Sítio do Pica-Pau Amarelo e o "happy ending" quase nunca é tão feliz assim.

Isso não significa que a vida seja de todo ruim, mas é importante respeitar o poder das escolhas que fazemos, sabendo que cada uma terá consequências distintas — e que, na maioria das vezes, não haverá alguém para te socorrer caso tudo dê errado.

Então, se posso lhe aconselhar, eu diria para que você tente sempre conciliar inocência com sabedoria, pois nem todo mundo é tão bom quanto você imagina. Às vezes, as decepções vêm de quem menos se espera e quem mais se ama. Isso não quer dizer que você precise se fechar ao mundo e às relações. É só lembrar que uma dose extra de (auto)cuidado é sempre bem vinda.

Outra coisa: permita-se sentir verdadeiramente cada emoção. Ria quando achar graça, grite quando estiver com medo, urre quando sentir raiva e chore quando sentir dor. Não guarde suas emoções para dentro de si, pois isso tem grandes chances de desencadear em problemas como depressão, compulsão e ansiedade.

Saiba enxergar o seu valor. Isso significa olhar para si mesma com mais carinho e menos julgamento. É respeitar os nossos próprios limites, sem deixar de enxergar e fortalecer as nossas virtudes. É se amar mais e melhor a cada dia.

E por último, mas não menos importante, não desista do amor, por mais que o mundo inteiro te faça duvidar da sua existência. Ele está por aí, seja no cuidado com uma flor, no abraço com seus pais ou na ligação para uma amiga que você não encontra há muito tempo. O amor não se restringe e tampouco pode ser limitado. O amor faz parte de quem você é e isso nada nem ninguém jamais poderá mudar.

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