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Entre o estar e o ser feliz



Ninguém neste mundo está livre de ficar triste, de sentir raiva ou desgosto, amargura ou descontentamento.
Até aquela pessoa irritantemente feliz - que te faz pensar como é possível se manter nesse estado de sublimação espiritual vinte e quatro horas por dia - também tem seus momentos ruins.
Vivemos numa sociedade onde a tristeza é vista como fraqueza e a felicidade deve ser eterna e inabalável.
Não se pode tolerar um dia sequer de olhos afundados em mares de água salgada.
Muito menos se pode aceitar a palavra depressão.
Isso é uma doença de gente que tem a cabeça fraca ou é rico.
Seria engraçado se não fosse a realidade nossa de cada dia.
A cobrança pela alegria constante se faz presente até mesmo nas propagandas ilusórias de absorvente (quer ilusão maior do que uma mulher feliz naqueles dias?) e de margarina (família reunida tomando café todos os dias, com fartura e sem brigas. Onde? Na vida real com certeza não é.).
Confunde-se ser feliz com permanecer eternamente feliz.
A felicidade tanto pode quanto deve ser encontrada nos fatos mínimos do nosso cotidiano.
Poder saborear um café quente toda manhã, poder sentir a brisa do vento frio no início do dia, sentir o cheiro de perfume de alguém que se ama, ler um livro com prazer, poder caminhar, mesmo quando se tropeça, sentir o toque macio da pele em contato com o outro, sentir o calor da água quente durante um banho longo, ver as cores que surgem ao final de cada dia em meio a um pôr do sol único.
O prazer não se deve ser mantido apenas pelo viés sexual ou a partir de entorpecentes (lícitos ou não) como a maioria das propagandas nos faz acreditar, engolindo absurdos guela abaixo.
Quando se aprende a viver apreciando as pequenas coisas tudo se torna mais fácil, e agradável.
Não estou dizendo que a depressão ou os sentimentos ruins da vida devem desaparecer por causa disso. Porque eles não vão.
Mas saber administrar as fraquezas e as dores da vida é uma arte que deve ser aprendida a cada dia.

Isabela Santiago

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